28/05/2011

EU VI A PONTE SUBMERSA DE ITAPUÍ

Parece incrível, mas eu vi a Ponte submersa de Itapuí!

 Em visita “caminhada” que efetuei as pacatas e aconchegantes cidades do Centro-oeste do Estado de São Paulo, Boracéia e Itapuí, com direito a travessia do limpo Rio Tietê, utilizando os “préstimos” de um “ferry-boat”, que de meia em meia hora transporta veículos de “qualquer monta” de Boracéia para Itapuí e vice-versa, acabei “aportando” na pequena rodoviária de Itapuí.

Tinha como principal finalidade, conseguir uma condução que me levasse de volta à cidade de Pederneiras, local de origem de onde eu havia empreendido a minha caminhada até aquele local (foram aproximadamente 28 km de marcha …).

“Aportei” na “pequena e humilde” lanchonete por lá instalada e primeiramente em pedido informal, solicitei um refrigerante (a constante Tubaina, que impera nestas cidadezinhas do interior … ) e “entabulei” breve conversa com a proprietária da “instalação” (que posteriormente vim a saber se chamar Amanda … não perdi a oportunidade e brinquei indagando se o seu nome foi oriundo de uma homenagem à filha do falecido cantor Antonio Marcos com a também cantora Vanusa …)!

“En passant” comentei com a mesma sobre a epopéia enfrentada com a caminhada empreendida até o local e num repente o diálogo transformou-se em uma míni conferência com inserção de mais dois “assiduos freqüentadores do local” no bate-papo!

Esta “interferência” merece um capítulo à parte nestas minhas citações!

Um dos “envolvidos” nesta interferência, uma figura sui generis no que diz respeito à aparência física: franzino, pele “curtida e queimada pelo sol” e “totalmente alcoolizado”. Porém, apesar de seu alto teor etílico, conseguia, não sem alguma dificuldade, comunicar-se a contento. Em principio, dentro do contexto que se havia iniciado aquela minha conversa, demonstrou certo espanto pela caminhada que eu havia empreendido.

Intermediado por apartes efetuados pela Amanda e pelo outro “pau d’água” presente, o “agradável bate-papo” foi evoluindo.
A conversa enveredou, devidamente direcionada por mim, para aspectos julgados relevantes por eles concernentes à cidadezinha. Foi aí que o franzino Araújo (assim o chamava a Amanda …) “se superou”! Iniciou uma descrição de aspectos que, em sua mente de pessoa alcoolizada, estavam registradas e julgavam relevantes. Disse que o rio Tietê era motivo de muita diversão e fonte de alimentação e subsistência de uma grande parcela da população da cidade e que a construção da barragem na cidade vizinha de Bariri havia “acabado” com a alegria de viver de grande parte da mesma!

A Amanda, de vez em quando e “disfarçadamente”, olhava em minha direção e entabulava “ligeiro sorriso” em consonância com os relatos que iam sendo “desenvolvidos” pelo “impagável” Araújo.

Foi quando “a coisa” se desencadeou! Enquanto relatava o que havia ocorrido com o advento da construção da barragem de Bariri, o assunto derivou para a conseqüente submersão havida em uma ponte que ligava a cidade de Itapuí à vizinha cidade de Boracéia. Ao relatar o ocorrido com a ponte, lágrimas abundantes começaram a rolar pela face do Araújo! Fiquei perplexo por alguns instantes com a situação!

De forma solerte, a Amanda interferiu e explicou que isso sempre ocorria quando o “garoto” mencionava a ponte submersa da Itapuí! Ele recordava sua época de infância, juventude … quando exploravam bastante as idas e vindas de uma cidade à outra via ponte de Itapuí!

O Araújo, por seu turno, voz embargada pelo choro incontido que o acometera, tentava prosseguir relatando histórias e estórias ocorridas naqueles áureos tempos que vivera! A Amanda, acredito que já habituada com aquela situação, enveredou pela brincadeira enfatizando que o Araújo havia parado na delegacia por ter pulado nu de cima da ponte para um mergulho no rio!

Aquele rosto choroso, que eu observava de uma forma entre divertida e curiosa, misturava momentos de riso forçado com expressões de sentimento de saudade incontida!

Explicou-se que o advento “nu de cima da ponte” havia ocorrido na remota época de infância do agora “alcoolizado da estação rodoviária de Tatuí” e que, de acordo com a citação “a meio sorriso” do “envolvido”, não havia sido efetivada solitariamente, haja vista alguns outros “amiguinhos” também participarem da aventura. Aos poucos, a situação um tanto quanto constrangedora causada pelo episódio “lágrimas vertentes na face do Araújo” foi sendo superada e prosseguindo no relato, a complementação citou o fato de que foram as mulheres que também se banhavam nas despoluídas águas do rio Tiete (quisera alguns outros locais por onde o rio serpenteia também pudessem usufruir da pureza destas águas …) que “feridas” em seu pudor por este atentado ao mesmo realizado pelos adolescentes, “apelaram” para um socorro miliciano…



De minha parte, o meu inconsciente, teimava em fixar o semblante choroso, olhos marejados, pensamento distante do saudoso Araújo, em perfeita harmonia com o seu despoluído rio Tiete, em perfeita harmonia com áureos tempos de sua infância, adolescência, juventude…

Naquele semblante cansado, naqueles olhos marejados, naquele desabafo humano e apaixonado por suas raízes, por sua cidade, por seu passado, …, por sua vida, EU VI A PONTE SUBMERSA DE ITAPUÍ!
 

HICS

5 comentários:

  1. É muito bom conhecer essas figuras raras de serem encontradas, e já havia ouvido falar dessa ponte a muito tempo atrás eu tinha uns 12 anos, uma conhecida da família que morava na região na época que comentou, mas tudo de bom o texto com certeza.

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  2. Que maravilha de texto e deu pra sentir a emoção! abraçs,lindo fds,chica

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  3. OI! Muito interessante seu texto. O livro da peça "Fausto" de Goethe trabalha bem esta questão. O progresso é muito bom, mas a sociedade iria pagar um preço alto por isso, quando perderia sua identidade e lembranças. São essas lembranças que estão presentes na memória do "saudoso Araujo"... Parabéns caro colega.. tudo de bom

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  4. Querido HICS, recordar é viver, certo?
    E você sempre nos traz boas e belas histórias. Parabéns pelo texto, meu caro!
    Beijo no coração.

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