13/06/2011

Síndrome da Nota

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'Nos antigamente' o aluno seria considerado apto a 'pular' para a série seguinte do curso que estava frequentando quando atingisse TODO o programa que era ministrado pela escola e quando também cumprisse todas as suas obrigações de discente, no que concerne ao aproveitamento e disciplina.
O aluno poderia ser o NOTA CEM que normalmente, assim como aquele que eventualmente fosse um NOTA CINQUENTA, também era submetido aos exames regulares que englobavam exame oral e as avaliações de comportamento e aptidões físicas.

Lembro-me que muitos colegas de classe que eram alunos NOTA CEM sentiam-se perfeitamente adaptados ao fato de mesmo estando devidamente preparados em todas as disciplinas, comparecerem com os demais colegas para a realização dos exames finais. E, estando devidamente preparados, sentiam-se na obrigação de irem bem nas provas, haja vista seus domínios sobre os diversos assuntos que lhes foram repassados.

Fui de uma época que era necessário submeter-se a um exame de admissão para ingressar em escolas públicas e havia uma espécie de cursinho que era frequentado por aqueles que concluíram o curso primário, que lhes dava subsídios para acompanhar as disciplinas que teriam de enfrentar em seu curso ginasial.

Como ingressei em meu curso primário com um 'pouquinho de atraso', haja vista o ter iniciado já com 9 anos de idade (o normal era que a criança iniciasse seus estudos no antigo curso primário com 7 anos...), ao terminá-lo fui 'de imediato' e sem passar pelo cursinho de admissão, prestar o exame que, em sendo aprovado, me daria direito de ingressar no curso ginasial.
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Na média, como sempre foi a tônica de minha vida, não sem alguma surpresa, consegui uma vaga para cursar o ginásio industrial em uma escola estadual denominada IE Dr. Júlio de Mesquita.
Senti grandes dificuldades nas aulas que assisti inicialmente, pois sem haver frequentado o cursinho de admissão, não raro ouvia de alguns professores a expressão: “isso eu não vou repetir, pois vocês já estudaram na admissão... Então, eu literalmente 'rodava' nas avaliações que nos eram impingidas.

Confesso que se isso ocorresse nos dias de hoje eu estaria enquadrado nos casos de 'bullyng', pois sofria muito com a minha fraca performance, e não raras vezes fiz o caminho de volta à minha casa com lágrimas que teimavam em rolar pelas minhas faces.

Nós éramos submetidos a avaliações constantes e prestávamos exames obrigatórios ao final de cada semestre letivo. Recordo-me que ao final do primeiro semestre, num seu procedimento costumeiro, nossa professora de matemática chamava pelo nome do aluno, aguardava que ele se levantasse e dizia em alto e bom som a nota que ele havia conseguido em seu exame. O aluno sentava-se novamente e era chamado um próximo, repetindo-se o mesmo procedimento.
A professora Alice chamou pelo meu nome, levantei-me e ela impessoalmente vociferou minha nota:
-- ZERO!

Enquanto alguns risinhos abafados de alguns colegas de classe ribombavam pela minha cabeça, nem precisei sentar-me novamente, pois caí sentado sobre a cadeira.
Porém, apesar de minha 'tenra' idade, já conseguia discernir que isso fazia parte de um processo e que eu teria de 'dar a volta por cima' para reverter a situação.

Hoje, lembro-me com certo orgulho, que ao final do ano, ao receber minha caderneta de notas, havia conseguido aprovação em todas as disciplinas e considerado apto para prosseguir meus estudos na segunda série ginasial.
A bem da verdade havia conseguido a 'promoção' com quase todas as médias ‘limite’ (que na época era 5...), no entanto, foi para mim uma autêntica vitória haja vista meu início totalmente claudicante e que deixou muito a desejar.

E, por essas e outras que hoje, aos 6.3 ao retornar aos bancos escolares está difícil 'engolir' que jovens usem de todos os artifícios para escaparem de exames que lhe são aplicados ao final dos semestres (aqueles que cursam da forma modular...), como se esses fossem altamente vergonhosos ou 'quase' impossíveis de se obter uma nota para aprovação.

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E pensar que uma promoção nos dias atuais oferece uma gama de facilidade bem maior do que a oferecida em épocas anteriores...
O sistema atual oferece possibilidade de um aluno ser promovido independentemente de realização de um exame se obtiver como rendimento escolar uma média 7. No caso da Universidade que frequento (não devendo diferir muito das outras...), há uma avaliação preliminar que depende única e exclusivamente do MESTRE titular da disciplina, significando dizer que ele pode medir a capacitação dos alunos através de uma avaliação particular, de atribuição de trabalhos, de aplicação de provas, etc.

Se a somatória dos conceitos obtidos na avaliação preliminar e da avaliação oficial resultar em 14 ou mais, o aluno estará automaticamente dispensado de realizar o exame final!
Só há uma penalização maior se o aluno obtiver em sua somatória um valor menor do que 6, equivalendo a uma média de aproveitamento menor do que 3 (obtida pela simples média aritmética do valor obtido pela soma. Por exemplo, se a soma resultar 5, a média de aproveitamento seria 2,5...). Nesse caso, o aluno estaria automaticamente em dependência na disciplina.
Como percebemos, soaria bem mais simples do que épocas remotas...

Já tive por várias ocasiões, oportunidade de conversar com alunos e Mestres, enfocando o fato de que deveriam encarar a necessidade da realização de um exame como algo que faz parte da vida escolar, no entanto, já está enraizado o estigma de que há de se obter a aprovação logo após a realização da prova oficial, valendo tudo na guerra pela obtenção dos pontos necessários para atingir-se o 7. Vale colas, vale denegrir-se a qualidade de ensino dos Mestres, vale desculpas mil para o não cumprimento das obrigações estudantis, vale a exacerbada falta de educação, de moral e de ética tão comum nos padrões gerais de conduta nos dias atuais.


HICS

7 comentários:

  1. Realmente os tempos estão mudados, foi-se o tempo que a escola valorizava o aluno que sabia a matéria, mas claro que o sistema de ensino necessita de uma revisão, mas quando se revisa sempre quer se fazer o melhor e não o que estão fazendo com o sistema educacional brasileiro.

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  2. Talvez seja mais vantajoso ter pessoas menos capacitas no mercado de trabalho.


    Abraços.

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  3. Excelente crônica!
    Infelizmente muito bem condizente com nossa triste realidade atual.
    abraços

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  4. Oi, o texto ótimo de um assunto muito importante. O ensino precisa passar por uma revisão sim, talvez cobrar mais dos seus alunos. Meu filho está num colégio desse tipo. Mas não concordo do professor falar a nota do aluno em alto tom, para mim isso é humilhante. Acho que os educadores devem que ser sigilosos e procurarem ajudar aquele aluno que tem dificuladade em uma matéria. Claro que em todos os tempos existem alunos que gostam de estudar e querem aprender e aqueles que gostam de ir empurrando com a barriga o estudo. Muito bom, caro colega, gostei muito.. Abraços

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  5. Prezadíssimos Amigos!
    Muito grato pela visita e comentários...
    Quiçá os jovens atuais se conscientizem que devem aperfeiçoar-se e buscar junto aos verdadeiros Mestres aqueles que se dignem a fornecer-lhes subsídios sufientes para enfrentar essa verdadeira batalha pela subsistência na concorrida esfera profissional dos dias de hoje!
    Abçs...
    Tudo de bom SEMPRE, fiquem com Deus SEMPRE e,..., até de repente!

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  6. Muito mais que passar conhecimentos, o papel do professor é também educar, passando valores para a vida. Alguns culpam os péssimos salários e a precariedade das escolas, mas a verdade é que ser mestre engloba um todo bem maior, esta é uma profissão que deve ser exercida por amor. Ridicularizar os alunos não é uma atitude agradável, muito menos profissional. A escola deve cobrar, sim, porém sempre com muito respeito, pois só recebemos aquilo que também somos capazes de oferecer.
    Parabéns pelo texto, querido HICS!
    Beijo no coração.

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  7. Infelizmente, hoje, não se ensina mais como se ensinava antigamente.
    CQD.....
    Abração.....
    Sandor

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